A DITADURA MILITAR E A MÍDIA
Aluno E[1]
Resumo: Este artigo objetiva relatar sucintamente o discurso do
jornal Folha do subúrbio [2](situado
na cidade de Camaçari/BA) mediante o golpe militar (1964-1985), que ocorreu em
31 de março de 1964 durante o mandato do presidente João Goulart (Jango), que
foi sucessor de Jânio Quadros.
O jornal Folha do Subúrbio foi um
importante receptor de notícias daquela época (1963-1966). Desde antes do golpe
o jornal já vinha publicando matérias bastante contundentes com críticas ao
governo do presidente Goulart, até mesmo ironizando o fato de o governo do
atual presidente ser considerado operário e o transporte está tão decadente
para os próprios operários, "pois não é possível que agora que temos um
governo trabalhista no poder, os operários se vejam na contingência de arribar
para a capital sem meios e sem recursos" [3].
O jornal não parava por aí também acusava o atual governo de fraco nas
políticas externas e o denominava de "demagogo": "o que nunca se
viu no Brasil senão nesses dois últimos anos, foi a agitação demagógica montada
e posta para funcionar pelas próprias autoridades" [4].
Segundo o historiador Carlos Fico [5]em
seu livro (o golpe de 1964 p. 60-61) “um
dos motivos da derrubada do então presidente foi as "marchas com
Deus, pela liberdade" (19 de março de 1964)”, [6]movimento
que teve início depois de um infeliz discurso do S.r. Goulart no comício da
central, no qual segundo a oposição atacava o Rosário que é um dos símbolos da Igreja Católica. O movimento teve total apoio da Igreja, chefes de estado,
empresários, parte da população e grande parte dos militares, depois de toda
essa pressão popular no dia 31 de março de 1964 os militares tomaram o poder e
derrubaram Goulart.
No dia 30 de abril de 1964 o jornal Folha
do Subúrbio estampou em sua capa uma matéria com o título" o novo
presidente", com a foto do então novo presidente Humberto Castelo Branco,
que foi um dos líderes do golpe. A matéria do jornal parabenizou o ocorrido e auto
o intitulava como "revolução", com o seguinte texto: "...o
estado de revolução entra em recesso para instalar-se a normalidade democrática
e realizar-se o ideal da nação brasileira". E não se para por aí. Na mesma
edição, o jornal ainda afirma, "o pleno poder e associação das nações
unidas estão de acordo com o nosso conjunto de eliminar a guerra, a agressão e
o perigo da violência", [7]com
isso o jornal afirma que com o início do novo governo todos os problemas irão
ser combatido a rigor.
Na edição seguinte 30 de maio o jornal expõe editorial com o título "moção de
congratulações" com o nome do então redator e dono do jornal (Eduardo
Cavalcante Silva), com um certo tom de comemoração pelo acontecimento da
revolução (golpe). "... em reconhecimento pelos serviços prestados pelo
ilustre jornalista e dedicado aos inimigos dos comunistas- vem congratular-se
com sua pessoa, nesta vitória"[8], com
isso notório constatar que no ponto de vista do jornal o cenário político da
ocasião era propício ao país.
Na edição de agosto do jornal, com o título
"os comunista e a UNE" o jornal denuncia de forma acentuada que no
governo anterior houve infiltração de comunistas nos sindicatos estudantis,
"...notadamente durante o governo do Sr. Goulart os sindicatos e as
agremiações estudantis têm sofrido os efeitos das infiltrações comunistas"[9], e
com mais essa crítica ao governo de Goulart, o jornal deixa a entender que o
governo de Castelo Branco estava encontrando dificuldade com os sindicatos
estudantis por conta da presença de comunistas que são contra a revolução
(golpe).
Na edição de 25 de dezembro de 1964, o
jornal Folha do Subúrbio expõe uma edição bastante polêmica com o título contra
revolucionários, isso porque militares instalaram naquela época uma
censura para todos aqueles que eram contra a ditadura, e o jornal os
intitularam como "os contrarrevolucionários", ação um tanto quanto
dúbia porque é bastante provável que até mesmo eles da Folha do Subúrbio
estariam sendo de alguma forma censurados, mas em vez de defender o seu setor
(a mídia) eles os colocavam como inimigos da pátria e comunistas: "se queixem
da falta da liberdade de imprensa, da liberdade de cátedra, da liberdade de
ação ? Esses poríferos comentários são daqueles que queriam uma revolução
diferente, uma revolução de esquerda, socialista e comunista".[10] Esse artigo polêmico era nada mais de que uma alfinetada a quem era contra o
regime militar e um jeito de expor que ele estava de acordo como o governo.
Em 23 de janeiro de 1965, o jornal lança
mais uma edição com o uso de críticas ao governo de João Goulart acusando-o de
nacionalista e deixando nítida que segundo ele o nacionalismo era algo ruim e
que estava sendo combatido pelo presidente militar Castelo Branco pensamento
que pode-se comparar no cenário atual do país, no qual acusa- se o
nacionalismo: "se descobriram de corrupção e de traição à pátria dos
ardorosos nacionalista". O jornal não parou por aí logo depois publicou uma
nota intitulada "maculando a revolução!",[11] na qual o jornal compara números obtidos durante o governo anterior em que se
apresenta a alta de preços no custo de vida da população brasileira: "uma
casa que pagava 3 mil cruzeiros de décimas passou a pagar 30 mil cruzeiros, um
lote de terras que pagava de transmissão interativas 3 mil e 600 cruzeiros
passou a pagar 36 mil"[12] números
que são considerados absurdos já que os preços já vinha subindo a muito tempo
bem antes do governo de João Goulart já que a inflação naquele tempo já estava
a muito tempo em alta.
Em 1966 a perseguição aos que eram contra
o regime militar era muito grande tal que se alguém se candidata-se a alguma
eleição com um ideal nem que fosse um pouco contrária ao ideal da revolução
(golpe) esse era atacado e perseguido. Isso aconteceu com um candidato e o Folha
do Subúrbio fez questão de mostrar isso e deixa o seu direcionamento político: "depois de tudo isto de uma revolução que nos trouxe, pelo menos esperança
de melhores dias em nossa comuna, é que vem assim, este 'prefeito
profissional'[13]
acobertado pela bandeira da arena".
Com isso é
notório constatar que a Folha do Subúrbio e todos os senhores nela envolvida
desde até antes que o golpe se consolidar-se possuía um posicionamento
contrário ao governo de João Goulart pois em várias edições o jornal
relacionava-o com o comunismo e com os problemas sociais que haviam se
acarretado naquela época com o objetivo de voltar os seus leitores contra o governo
e relatar que segundo eles era preciso mudança, e depois do golpe o jornal só
efetivou o seu apoio ao atual governo, com a edição "a marcha da família
também nessa cidade", que deixava explícito o apoio da população para o
golpe. Outra forma que comprova isto é o editorial do jornal intitulado
"moção de congratulações" (30 de novembro de 1964) que era em
comemoração e apoio a consolidação do golpe e várias outras edições de elogio
ao governo de Castelo branco, e a última e mais clara evidência de apoio do
jornal ao regime militar é a denominação do movimento como
"revolução" e que seria a esperança do Brasil.
Jornal Folha do
subúrbio edições de (1963-1966).
O golpe de 1964:
momentos decisivos, do historiador Carlos Fico (2014) P. 60-61.
[1] Estudante do ensino
médio do centro educacional Professor Edílson Souto Freire.
[2] Jornal Folha do Subúrbio situado na cidade de
Camaçari/BA, propriedade do Sr. Eduardo Cavalcante Silva, edições de estudo
entre (1963-1966).
[5] Carlos Fico da Silva é um historiador
brasileiro, especialista em história do brasil e republica, com ênfase em temas
como ditadura civil-militar.
[6] O livro golpe de 1964; momentos
decisivos, do historiador Carlos Fico, P. (61-62).
[13] Jornal folha do subúrbio, 28 de setembro
de 1966. N°510.